domingo, 16 de dezembro de 2012
Copa 2014 vai gerar 11 milhões de toneladas de CO2; pegada é de duas toneladas por turista
Ninguém melhor que os técnicos da ONG inglesa Useful Simple Projects, que coordena o programa mundial Carbon Foot Print (ou pegada do carbono, em tradução livre), para fazer um inventário científico de quanto uma cidade como Belo Horizonte (MG) pode gerar de poluição na atmosfera em sua corrida contra o relógio para ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014. Sozinhos, os mineiros vão produzir o equivalente a 803,4 mil toneladas de CO2 (dióxido de carbono, ou gás carbônico), somando-se desde à água do banho até o pouso de um avião europeu com fanáticos por futebol. Ao todo, as 12 cidades-sede da Copa emitirão 11 milhões de toneladas do gás.
Até o momento, nenhuma sede brasileira apresentou um plano de contenção ou compensação pela emissão de carbono na preparação, na realização e no pós Copa 2014.
Poluição aérea – A poluição atmosférica gerada por aviões fará com que as cidades que receberem mais turistas durante a Copa alcancem uma taxa de emissão de gás carbônico na casa de 1,6 milhão de toneladas
Os cálculos são da ONG britânica, cujos técnicos visitaram Fortaleza (CE) e Belo Horizonte no fim do mês de novembro, onde encontraram-se com autoridades públicas que cuidam da preparação brasileira para o Mundial.
Como se sabe, o CO2 é o maior inimigo da camada de ozônio que protege a Terra dos raios solares nocivos à saúde humana e ao equilíbrio ecológico do planeta. O Ministério do Meio Ambiente montou uma equipe especial em seu núcleo de mudanças climáticas para acompanhar as obras e a contaminação ambiental provocada pelos eventos de junho de 2013 (Copa das Confederações) e 2014.
O grande vilão da contaminação atmosférica por dióxido de carbono é exatamente o volume de turistas que devem visitar o país durante a Copa do Mundo. Segundo os técnicos , a Copa das Confederações representa apenas 16,5% de toda poluição da Copa do Mundo.
Cruzar o Oceano Atlântico para gastar euros no Brasil pode significar um salto na economia a curto prazo, mas representa também uma bomba-relógio na planilha de sustentabilidade aplicada pelo Useful Simple Projects. Os turistas esperados na capital mineira, por exemplo, deverão ser responsáveis pela emissão de 607,7 mil toneladas de CO2, e não existe um planos de compensação ambiental montado para minimizar esse impacto. Cada turista europeu ou americano a caminho do Brasil representa duas toneladas de gás carbônico despejadas na atmosfera.
“Os turistas serão responsáveis pelo maior fluxo de carbono na atmosfera. Viagens dos Estados Unidos ou Europa até o Brasil são mais longas. Quanto maior a distância, maior o impacto de emissão de poluentes”, explicou o biólogo Felipe Miranda Nunes, gerente de Energia e Mudanças Climáticas da Fundação Estadual do Meio Ambiente, órgão do governo mineiro.
Juntas, as obras de infraestrutura em Belo Horizonte emitirão cerca de 128,9 mil toneladas de CO2. As obras nas arenas (reforma do Mineirão e do Mineirinho) emitem 39,7 mil toneladas, enquanto a operação técnica das Copa das Confederações e do Mundo gera o equivalente a 28,1 mil toneladas de carbono.
Belo Horizonte foi convidada a fazer um plano-piloto com consultores da Useful Simple Project por meio do programa Carbon Foot Print. A entidade trouxe um patrocínio de 200 mil libras esterlinas ao Brasil (cerca de R$ 670 mil) para cumprir uma missão: ajudar as sedes brasileiras a inventariar a poluição causada na organização de um grande vento.
O inventário obedece os protocolos mais modernos de controle ambiental e liberação de gases nocivos, aprovados nos últimos dez anos. O termo “pegada de carbono” significa uma atividade realizada e seu conseguente fator de emissão de díoxido de carbono. Os dados de Belo Horizonte já estão disponíveis para todas as sedes envolvidas com a Copa das Confederações e Copa do Mundo.
O gerente de mudança climática do governo de Minas Gerais ajudou o UOL Esporte a consolidar uma previsão de emissão de carbono durante a Copa de 2014. “Usamos dados obtidos nas Copas da África do Sul (2010), Alemanha (2006) e Jogos Olímpicos de Londres (2012)”, disse Miranda Nunes. “Em média, as emissões nas sedes brasileiras deverão ficar na casa das 804 mil toneladas, mas algumas como, São Paulo e Rio de Janeiro, que recebem muitos turistas, podem até passar das 1,6 milhão de toneladas de emissão de carbono, pelo maior uso do transporte aéreo. Devemos ficar na casa dos 10 ou 11 milhões de toneladas de CO2 na soma geral da pegada de carbono dos dois eventos”.
Em média, 80% da poluição atmosférica gerada na Copa da África do Sul, nos Jogos de Pequim e nos Jogos de Inverno de Vancouver vieram dos aviões. Cada metro cúbico de concreto significa a liberação de cerca de 250 kg de CO2 na atmosfera, segundo o inventário mineiro.
“O mesmo deve acontecer no Brasil. Acreditamos que a estrutura brasileira se aproxime mais da estrutura sul-africana”, disse a diretora da ONG inglesa, Judith Sykes, em entrevista ao UOL Esporte, durante sua última visita a Fortaleza para auxiliar a elaboração do controle na produção de um grande evento esportivo.
“O projeto tem duas partes: a primeira é inventariar o carbono nas ações humanas; a segunda é controlar o impacto dessa emissão de uma maneira educativa e massificada”, concluir a ambientalista inglesa.”O carbono que escapar do controle desde a compra de insumos deverá ser compensado com programas especiais dirigidos à sociedade como legado”.
Foi exatamente por causa da ausência de um plano de mitigação da emissão de CO2 antes, durante e depois da Copa do Mundo que Paulo Margulis, assessor do Ministério do Meio Ambiente, fez um discurso mais duro, diante de representantes de Curitiba (PR), Fortaleza e Belo Horizonte (cidades escolhidas pela ONG para receber treinamento e capacitação ambiental).
“Gente, chegou a hora de começarmos a contar e a somar o que estamos gastando, o que estamos emitindo de carbono na atmosfera durante as obras… Sem isso, como vamos planejar a redução desse impacto? Temos um estádio pronto em Fortaleza, outro quase pronto em Belo Horizonte e onde está a soma da emissão de carbono?”perguntou o assessor do ministério, sem obter resposta.
Como referência, Londres gerou 3,5 milhões de toneladas de CO2, durante os Jogos Olímpicos realizados em julho de 2012. “Nenhum resíduo sólido foi enterrado em lotes sanitários, antes, durante e após os Jogos”, anuncia com orgulho a Embaixada Britânica, que patrocina o projeto ambiental.
Os ingleses são adeptos do humor para poucos entendedores. Para quebrar o paradigma, os britânicos da Useful Simple Projects fizeram uma tabela cristalina que mostra a equivalência de um assento de futebol e uma xícara de chá. Mais que isso: mostra que a construção de um estádio de 80 mil lugares significa a destruição de 44 km2 de florestas ou 14 bilhões de xícaras de chá. (Fonte: Roberto Pereira de Souza/ UOL)
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