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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Alergias não são “acidentes imunológicos”, mas sim defesas intencionais do organismo

Todo mundo parece ser alérgico a alguma coisa atualmente, não é mesmo? De flores a fumaça, inúmeras coisas são capazes de causar coceira, espirros, tosse, olhos secos, corrimento nasal no que configura um aborrecimento quase constante. Alergias alimentares: além de cada vez mais comuns, podem ser fatais Mais que um aborrecimento, no entanto, cerca de uma a cada 50 pessoas no mundo é seriamente afetada por alergias. Picadas de abelha, amendoins ou penicilina são capazes de desencadear uma reação alérgica potencialmente letal que afeta o corpo inteiro, chamada de anafilaxia. Por quê? A alergia e seus efeitos são bem conhecidos, mas pouco compreendidos. A resposta alérgica é uma das características mais enigmáticas do nosso sistema imunológico. O que determina quais substâncias são potencialmente alergênicas e quais não são? O que torna algumas pessoas alérgicas a uma determinada substância, e outras não? Por que a resposta alérgica existe? Qual seu propósito evolutivo? A resposta para todas essas perguntas é: ainda não sabemos. Descobrindo a alergia “Alergia” foi um termo cunhado no início do século 20 pelos pediatras Clemens von Pirquet e Bela Schick. O conhecimento da “anafilaxia” surgiu ao mesmo tempo, graças ao fisiologista Charles Richet, cujo trabalho lhe rendeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1913. Depois disso, estudos sobre a resposta alérgica se focaram na alergia como uma doença ou distúrbio. Parece algo dado como certo, tanto que poucos cientistas se perguntaram como este tipo grave e potencialmente perigoso de resposta imunitária poderia existir – muito menos por que o sistema imunológico reage tão intensamente a substâncias aparentemente inofensivas que frequentemente atuam como alérgenos. Estudos de respostas imunes a parasitas eucarióticos multicelulares na década de 1960 mostraram que muitos dos elementos envolvidos na resposta alérgica também ajudam a defender o organismo contra vermes parasitas chamados de helmintos. Infecções helmínticas levam à produção de níveis elevados de imunoglobulina E (IgE), o anticorpo responsável por respostas alérgicas. Desde então, a sabedoria predominante tem sido a de que alergias resultam de um “erro de alvo” das respostas imunes que evoluíram para nos defender contra vermes parasitas. Em outras palavras, as alergias são o preço que pagamos para ter uma defesa eficaz contra parasitas multicelulares. Revendo a alergia Agora, porém, alguns cientistas começaram a questionar se esta hipótese é suficiente para explicar até mesmo os recursos mais básicos da resposta alérgica. Por exemplo, enquanto que as infecções por helmintos induzem anticorpos IgE, os IgE por si só não são fundamentais para se livrar da maioria destas infecções. Uma teoria alternativa para explicar a resposta alérgica foi proposta em 1991 por Margie Profet da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA). Ela especulou que a resposta alérgica evoluiu para permitir que o sistema imunitário nos protegesse de toxinas ambientais, como os fitoquímicos encontrados em plantas nocivas e venenos. De fato, enquanto os alérgenos são considerados pela maioria como inofensivos, um olhar mais atento revela que muitos são na verdade tóxicos. Assim, em vez de visualizar a resposta alérgica como uma resposta “mal direcionada” a helmintos, ela pode ser vista como uma resposta intencional, e geralmente benéfica, que nos protege contra substâncias nocivas do ambiente. As 10 alergias mais bizarras do mundo Controvérsia científica A hipótese da toxina permanece em grande parte ignorada pela comunidade biomédica. Porém, os especialistas listam quatro razões para confirmar sua validade: Os sintomas alérgicos, incluindo nariz escorrendo, lágrimas, espirros, vômitos e diarreia, podem ser entendidos como uma tentativa do corpo de se livrar de um alérgeno. Substâncias tóxicas encontradas nos alimentos e no ar provocam reações de expulsão semelhantes em todas as pessoas; Reações alérgicas são imediatas, ocorrendo dentro de segundos ou minutos a partir da exposição ao alérgeno. Esta resposta rápida é mais consistente com a defesa contra as toxinas, que podem causar danos imediatos, em comparação com a infecção por helmintos, que leva algum tempo para se desenvolver. Pessoas afetadas muitas vezes se tornam hipersensíveis aos alérgenos, reagindo a mesmo pequenas quantidades no ambiente. Dado que mesmo as respostas imunitárias a patógenos bacterianos e virais não atingem este nível de sensibilidade, não faz muito sentido ter este nível de sensibilidade a helmintos; Um dos aspectos mais intrigantes da resposta alérgica é a diversidade de substâncias que agem como alérgenos. Qualquer coisa, de pequenas moléculas encontradas na química da penicilina a misturas complexas de proteínas em venenos de animais, ou componentes de alimentos comuns, pode ser alergênica. Enquanto a hipótese dos helmintos não consegue explicar que partes dessas substâncias as tornam alergênicas, a hipótese da toxina prevê que o que esses alérgenos compartilham em comum é a sua capacidade de nos causar danos. A alergia e a evolução A hipótese da toxina então explica muita coisa. Por exemplo, que processos alérgicos evoluíram para proteger seu hospedeiro de substâncias nocivas no meio ambiente. E por que o corpo, às vezes, cria uma resposta anafilática tão grave e potencialmente letal mesmo a apenas vestígios de um alérgeno no ambiente? Cientistas sugerem que essa resposta alérgica pode ter um propósito muito útil, especialmente para os nossos antepassados. Como qualquer pessoa que sofre de alergias sabe, a melhor maneira de tratar uma alergia é ficar longe do elemento ou ambiente que a causa. Então, se muitos alérgenos são tóxicos, em seguida, a resposta alérgica pode ser interpretada como o condicionamento de uma pessoa para evitar ambientes que contêm toxinas potencialmente prejudiciais a ela. Em casos raros, as alergias podem também ser elas próprias “condicionadas”, através do sistema nervoso. Por exemplo, alguém alérgico a flores pode chegar a um ponto no qual tem uma reação alérgica somente por olhar uma imagem de uma flor. Isso faz sentido de alguma maneira, pois, ao contrário das fontes de patógenos microbianos, as fontes de alérgenos são muitas vezes facilmente identificáveis pela visão, o que torna o ato de evitar a principal estratégia para minimizar a exposição ao alérgeno. O benefício da reação alérgica pode ser parecido com o benefício da dor: a dor é desagradável, mas o seu desagrado nos ajuda a evitar agentes ambientais que prejudicam os nossos corpos e, portanto, é esse mesmo desagrado que aumenta nossas chances de sobreviver. Da mesma forma, as alergias podem ter evoluído para nos fazer sentir desagradáveis e nos encorajar a evitar ambientes, animais ou alimentos que contêm substâncias que podem prejudicar-nos.[NewScientist]

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