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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Até pimentão: cientistas criam cada vez mais frutas sem sementes

No Brasil, se você encontrar uma criança com um pimentão no bolso, vai achar que é algum tipo suspeito de brincadeira. Já nos Estados Unidos, um minipimentão sem sementes está fazendo bastante sucesso nas escolas. “A Angello Sweet & Seedless Pepper (Pimentão Angello Doce e Sem Sementes, em português) é uma nova variedade de pimentão sem semente, em formato cônico, com sabor doce e crocante”, descreveu a empresa responsável, a suíca Syngenta, que conquistou, pelo Angello, o prêmio de inovação na feira Fruits Logistica deste ano, em fevereiro, em Berlim, na Alemanha. Com uma cor vermelha vibrante e uma casca fina, ele mede de 5 a 10 centímetros e pesa entre 10 e 30 g. “É uma boa fonte de vitamina C e está disponível o ano todo, de produtores da Espanha, de Israel e da Nova Zelândia”. O pimentão é apenas a mais recente novidade no mercado americano, onde 80% das melancias consumidas não possuem sementes. “No exterior, praticamente todos os citrus (grupo que contém frutas como laranja, limão e tangerina) são produzidos sem sementes”, conta Roberto Pedroso de Oliveira, pesquisador da Embrapa na unidade Clima Temperado. No Brasil, o consumo ainda é restrito. De acordo com Oliveira, os citrus sem semente são cultivados no Brasil desde 1999. O principal produtor é o Rio Grande do Sul, com 1,5 mil hectares de cultivares da Embrapa, localizados principalmente na região da Campanha. As frutas, que oferecem o mesmo gosto daquelas com semente, são vendidas para grandes redes de supermercados e feiras livres. Melancias – Mesmo assim, parece pouco para quem sabe que a primeira melancia sem sementes surgiu na década de 1950, no Japão. Por que, depois de tanto tempo, essa cultura não se disseminou no Brasil, como nos Estados Unidos e em países da Europa? “O preço da melancia sem semente é bem maior do que o da melancia normal, e os consumidores não estão muito interessados em pagar mais apenas para não ter sementes na melancia”, aponta o pesquisador Manoel Abílio de Queiroz, doutor em melhoramento de vegetais e professor do curso de Mestrado na área de Genética e Melhoramento de Plantas na Universidade do Estado da Bahia. O pesquisador acrescenta ainda que muitos fatores inibiram agrônomos de produzir esse tipo de fruta nos últimos anos. A germinação das sementes triploides é baixa, então a roça precisa ter também melancias comuns para fornecer pólen. “A melancia triploide apresenta um certo número de sementes normais e, se for maior do que quatro, ela não é considerada sem sementes”, explica ele. É Queiroz que explica a diferença genética entre a melancia com e sem sementes. A comum tem 22 cromossomas. No processo de formação da semente, o pólen e o óvulo possuem 11 cromossomas cada. Quando se juntam, é formada a semente com 22 cromossomas. No caso da melancia triploide (sem semente), a melancia comum fornece 11 cromossomas no pólen, e o óvulo da melancia tetraploide, 22 cromossomas. Assim, a nova semente fica com 33 cromossomas. Esse tipo de semente, quando plantado, fornece frutos sem sementes. A diferença genética não influi no sabor da fruta, garante a Syngenta, líder em melancias sem sementes nos Estados Unidos. “O que muda é que a melancia permanece fresca por mais tempo, já que a semente em uma melancia normal pode ser uma fonte de etileno, que causa o rompimento da polpa. Mais de 80% das melancias produzidas nos Estados Unidos não têm sementes e são o tipo preferido por quase todos os consumidores”, afirma o gerente de portfólio da empresa, Deal Liere. Uvas – Cada fruta apresenta uma série de procedimentos diferentes. A Embrapa Uva e Vinho já lançou três cultivares de uvas sem sementes. Hoje estão em teste 17 novas seleções (denominação de um tipo de uva até seu lançamento) sem sementes em diversos polos de produção no País (Noroeste Paulista, Norte do Paraná, Norte de Minas Gerais e Vale do Rio São Francisco). Conforme o pesquisador da Estação Experimental de Viticultura Tropical (EVT) da Embrapa Uva e Vinho João Dimas Garcia Maia, a unidade utiliza a técnica do resgate e cultivo de embriões, que possibilita realizar hibridações entre duas variedades sem sementes e conseguir novas plantas sem sementes. Por meio da técnica, cerca de 85% da descendência do cruzamento não terá sementes. “Com as pesquisas de marcadores para apirenia (termo que designa fruta sem semente), espera-se poder fazer seleção assistida em plântulas novas, se vão produzir ou não sementes, antes de levar as videiras para o campo”, explica. Mutação natural – Nem sempre é necessária a ação dos cientistas para a produção de frutas sem semente, como revela Queiroz. A “Laranja Bahia”, por exemplo, originou-se de uma mutação natural. As laranjas de determinado galho de uma laranjeira nasceram sem semente e com um umbigo. Essa parte da planta foi multiplicada e então cultivada em diversos lugares diferentes. Esse tipo de laranja mutante, embora raro, ainda pode ser encontrado em algumas cidades brasileiras. Popularização – Os pesquisadores da Embrapa acreditam que as frutas sem sementes serão cada vez menos raras em todo o Brasil. “A partir do momento que passam a consumir um citrus sem sementes, as crianças só vão querer esse fruto e vão pedir para sua mãe e seu pai comprar”, aposta Oliveira. Queiroz concorda: “Os EUA e alguns países da Europa passaram muitos anos para poder ter o produto de forma normal nos supermercados. As melhorias nos processos de produção e germinação das sementes e a maior procura nos supermercados estimularam os agricultores. É provável que essa tendência também ocorra no Brasil”. (Fonte: Portal Terra)

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