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domingo, 20 de maio de 2012

Uísque com energético? Sim ou Não?

Mesmo sendo um assunto um tanto trivial muitos de meus alunos do curso pré-vestibular me perguntam a respeito dessa mistura que acabou virando mania entre o público jovem. Afinal é correto misturar uísque com energético? Será que faz bem? Será que faz mal? É um drinque elegante ou é uma heresia? Sempre uso os temas do cotidiano como um bom pretexto para falar sobre uma das minhas maiores paixões: a Química. Assim, vamos começar com a química das bebidas energéticas: Na composição das bebidas energéticas mais comuns no mercado brasileiro, duas substâncias se destacam: a taurina e a cafeína. TAURINA A taurina é um ácido sulfônico natural sintetizado no fígado e no cérebro. Seu nome oficial é ácido 2-aminoetanossulfônico e tem ação surfactante atuando como emulsificante dos lipídios (óleos e gorduras) no intestino delgado, promovendo a sua absorção intestinal. É usada em bebidas energéticas devido ao seu efeito desintoxicante e pelo fato de intensificar o metabolismo da glicose e favorecer a liberação da energia para o funcionamento do organismo. Além disso, a taurina age como transmissor metabólico, fortalecendo as contrações cardíacas. CAFEÍNA A cafeína é um alcaloide do grupo das xantinas, designado quimicamente como 1,3,7-trimetilxantina. É encontrado em certas plantas, tais como o café e o chá e é usado para o consumo em bebidas em virtude de sua ação estimulante, produzindo estado de alerta de curta duração – atuando diretamente sobre o sistema nervoso central. Age ainda sobre o metabolismo basal tendo efeito diurético. Aumenta a produção de suco gástrico e em doses terapêuticas estimula o coração e a dilatação dos vasos periféricos. Superdosagens podem provocar irritabilidade, ansiedade, dor de cabeça, insônia e em alguns casos morte. A dose letal de cafeína estimada para um adulto hígido de 70 kg é de 10 g. Apenas para constar, existem seis casos registrados de vítimas fatais por superdosagem de cafeína em virtude de convulsões e de colapso respiratório. Depois deste vislumbre químico sobre os dois principais componentes dos energéticos passemos para o uísque. Para o artigo não ficar muito extenso vou me deter no uísque escocês. O termo uísque, do idioma inglês whisky (empregado principalmente na escócia e demais países do Reino Unido) ou whiskey (empregado principalmente nos Estados Unidos) é uma corruptela da antiga expressão gaélica “uisge beatha” ou “água da vida” e se refere a uma bebida alcoólica bidestilada obtida a partir da fermentação de grãos cereais tais como a cevada, o milho e o trigo e que pode ser envelhecida em barris de carvalho ou de outra madeira. Sua graduação alcoólica varia de 38% a 54% (em volume) sendo rigorosamente regulamentado, pois possui várias classes de acordo com a fonte de suas matérias-primas fermentáveis e de seus processos de destilação e envelhecimento. Uísque escocês (Scotch Wisky) Só pode ser denominado Scotch Whisky o uísque produzido na Escócia e que tenha sido envelhecido em barril de carvalho pelo menos por três anos. Há quatro tipos oficiais de uísque na Escócia, a saber: 1. Single malt: Um destilado exclusivo de cevada, obtido pelo processo de bidestilação artesanal em alambique “pot” e com um envelhecimento mínimo de 12 anos. Sua produção é registrada desde 1494. É o tipo mais raro (e, portanto, mais caro) de uísque. Deve ser tomado puro, sem gelo e em copos pequenos. 2. Vatted: É obtido pela composição harmoniosa de dois ou mais barris de single malts. Deve ser apreciado da mesma forma que o single malt. 3. Grain whisky: É um destilado de grãos, principalmente do trigo, milho ou centeio. É de produção industrial, mais simples e barata. Seu processo de fabricação foi desenvolvida em 1853 pela destilaria Usher’s a pedido de clientes ingleses e usa geralmente o alambique contínuo do tipo “Cofey”. O grain pode ser tomado em copos de qualquer tamanho, com ou sem gelo. 4. Blended: É o mais popular dos uísques escoceses. É obtido da mistura harmônica de grains e single malts e pode possuir em seu “blend” cerca de quarenta uísques diferentes. O blended considerado standard não tem indicação de idade, no entanto para receber no rótulo a denominação “scotch”, como dito anteriormente, deve envelhecer no mínimo três anos em barris de carvalho. Por ser o uísque mais popular, o blended standart pode ser misturado a outras bebidas tais como sucos e refrigerantes. ENTÃO, É ELEGANTE MISTURAR UÍSQUE E ENERGÉTICO? Para os conhecedores e apreciadores de uísque qualquer blended com idade superior a 12 anos deve ser degustado da mesma forma que o grain, ou seja, puro ou com gelo para se apreciar o sabor do malte na mistura. No entanto é consenso entre os produtores escoceses e irlandeses que não existe forma errada de beber uísque e que se o cliente assim o desejar poderá beber até um single malt misturado com coca-cola. Um colega químico que lecionou durante anos Tecnologia das Fermentações sempre considerou isso uma heresia. Uma verdadeira afronta aos deuses celtas. Em suas palavras: – Um scotch ficou envelhecendo no mínimo 12 anos para refinar o seu sabor — e o cavalheiro ou a dama, sem a menor piedade o mistura com refrigerante ou energético? My Godness!! Para concluir esta parte do artigo, vou citar um comentário que li outro dia em um fórum: A questão era justamente essa: É correto misturar-se scotch envelhecido com refrigerante ou outra bebida? Um vendedor de vinhos finos de nome André postou: “- Se meu cliente quiser comprar meu vinho mais caro para fazer sagu, que seja bem-vindo! (Qual é a sua opinião sobre esse assunto meu querido leitor?) A MISTURA DO UÍSQUE COM ENERGÉTICO FAZ MAL PARA A SAÚDE? Vou responder esta questão com outra pergunta: Por que será que todo o energético possui na embalagem a orientação para evitar o seu consumo com qualquer tipo de bebida alcoólica? Alguns dados para ajudar na resposta. 1) Apesar de muitas pessoas pensarem que o álcool é estimulante, na verdade trata-se de um depressor do sistema nervoso central. A aparente estimulação inicial que ocorre em pequenas doses é oriunda da depressão no cérebro dos mecanismos naturais desencadeadores da inibição. Consequentemente ingerir álcool em excesso (depressor do sistema nervoso central) e cafeína em excesso (estimulante do sistema nervoso central) propicia no cérebro um efeito antagônico. Um estimula o outro deprime. 2) Cafeína e álcool coadunam efeitos que aceleram a perda de água (e consequentemente a de eletrólitos). 3) O energético misturado a bebidas com elevado teor de álcool como o uísque, além de diluir o álcool e deixar a mistura mais agradável ao paladar, a cafeína e a taurina deixam o indivíduo mais agitado, impulsionando-a a beber mais e submeter a um stress ainda maior os sistemas cardiovascular e respiratório. 4) Segundo um estudo da Unifesp, é possível ainda que os energéticos prolonguem a desinibição inicial desencadeada pelo álcool e levem os usuários a fazer um juízo errado de suas capacidades – como o de ser capaz de dirigir mesmo estando embriagado, por exemplo. 5) Em outro estudo, realizada pela mesma universidade, demonstrou-e que a cafeína presente no energético potencializa o efeito negativo do álcool no cérebro. De acordo com o estudo, a cafeína acelera a morte de células cerebrais, causada principalmente pelo álcool, que pode levar ao envelhecimento precoce e a doenças como mal de Alzheimer e de Parkinson. O álcool é um dos grandes responsáveis pela chamada morte celular programada, também conhecida como apoptose. Trata-se de um processo lento de morte de células que acontece com a presença de um estímulo agressor, como o etanol (álcool), por exemplo. E este efeito aumenta na presença da cafeína. Segundo a pesquisa, as células cerebrais morrem naturalmente em decorrência do envelhecimento. Porém quando o consumo de bebida alcoólica é exagerado, essa mortalidade aumenta em 50%. Esse índice é ainda maior quando o álcool é associado à cafeína, chegando a 80%. 6) O energético mascara o efeito depressivo do álcool favorecendo a superdosagem. O indivíduo pode se encaminhar para o coma alcoólico muito rapidamente e sem perceber. O que pode resultar até em óbito. Resumindo: Se o energético lhe dá asas, siga uma recomendação de trânsito — se for voar não beba! http://hypescience.com/uisque-com-energetico-sim-ou-nao/

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