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sábado, 4 de julho de 2015

Nós sobreviveremos a esta extinção em massa?

No último meio bilhão de anos, a vida na Terra foi quase dizimada cinco vezes por coisas como mudança climática, uma intensa idade do gelo, vulcões e aquela enorme pedra espacial que atingiu o Golfo do México há 65 milhões de anos, sumindo com os dinossauros e um monte de outras espécies. Estes eventos são conhecidos como as cinco grandes extinções em massa e todos os sinais indicam que estamos à beira de uma sexta. Só que, desta vez, não temos ninguém além de nós mesmos para culpar. De acordo com um estudo publicado no último dia 19 na revista “Science Advances”, a taxa de extinção atual seria mais de 100 vezes maior do que a normal – e isso levando em conta apenas os tipos de animais que mais conhecemos, os vertebrados. Os oceanos e florestas da Terra hospedam um número incontável de espécies, muitas das quais provavelmente irão desaparecer antes mesmo de nós as conhecermos. Mas quem são os mais vulneráveis a este processo? Será que nós corremos o risco de desaparecer também? A jornalista Elizabeth Kolbert, autora do livro “The Sixth Extinction”, vencedor do Prêmio Pulitzer deste ano para não ficção em geral, abordou essas e outras questões em entrevista ao portal da revista “National Geographic”. O papel do ser humano Ela explica que populações de ilhas, espécies endêmicas de determinadas regiões e que vivem isoladas são especialmente vulneráveis ​​à extinção. Um dos problemas que criamos foi remover barreiras que costumavam manter espécies destes locais isoladas. “A Nova Zelândia não tinha mamíferos terrestres. Espécies que evoluíram na ausência de tais predadores eram incrivelmente vulneráveis”, exemplifica. “Um número impressionante de espécies de aves já foram perdidas na Nova Zelândia e várias daquelas que permanecem estão com sérios problemas”. Para a escritora, não há dúvidas de que nós somos os responsáveis por estarmos vendo taxas de extinção tão elevadas. “Há muito poucas, se houver, extinções que conhecemos nos últimos 100 anos que teriam ocorrido sem atividade humana”, afirma, acrescentando que nunca ouviu alguém defender que este fenômeno é algo natural que teria acontecido “com ou sem seres humanos”. Nós contribuímos para isso de várias maneiras, desde a caça indevida passando pela introdução de espécies invasoras e chegando até as mudanças muito aceleradas do clima. “Estamos mudando a química de todos os oceanos. Estamos mudando a superfície do planeta. Nós derrubamos florestas, plantamos agricultura de monocultura, que não é boa para um monte de espécies. Estamos praticando a sobrepesca. A lista continua e continua”, enumera. Também vamos entrar nessa roda? Elizabeth conta ainda que, depois que a Terra passa pelo tipo de extinção em massa que estamos enfrentando, chegar ao nível anterior de biodiversidade parece levar vários milhões de anos. Por isso, é possível que, a partir de agora, a raça humana não viva mais nenhum momento em que não esteja ou em meio a uma grande extinção, ou se recuperando dela. “Se dermos às espécies de vertebrados (e nós somos uma espécie de vertebrados) uma vida média de um milhão de anos, e dizermos que os seres humanos já estão nos 200 mil anos de seu milhão, e houver uma extinção em massa – mesmo deixando de lado a questão de se os humanos serão vítimas de sua própria extinção em massa -, não se pode esperar que aquela mesma espécie esteja por aí quando o planeta se recuperar”. Quanto à questão de se nós, enquanto espécie, resistiremos à sexta extinção em massa do planeta, a jornalista tenta não ser categórica e aponta uma outra linha de reflexão. “Não quero afirmar que nós não podemos sobreviver à perda de muitas, muitas espécies. Nós já provamos que podemos. Somos muito adaptáveis. Mas eu acho que o ponto é que você não gostaria de descobrir isso”. Segundo ela, temos que pensar em duas outras questões, extremamente sérias. “Uma é: ‘Ok, só porque nós sobrevivemos a perda de um número X de espécies, podemos manter essa mesma trajetória, ou nós vamos, eventualmente, pôr em perigo os sistemas que mantêm as pessoas vivas?'”, diz. “E depois há uma outra questão: ‘Mesmo se conseguirmos sobreviver, é este o mundo no qual você quer viver? É neste mundo que você quer que todas as futuras gerações de seres humanos vivam?’ Essa é uma pergunta diferente”. [National Geographic]

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