sábado, 14 de março de 2015
Exercício físico beneficia pacientes com insuficiência cardíaca
Há alguns já se sabe que uma atividade física moderada é não apenas segura para pacientes cardíacos, mas altamente recomendável.
Pesquisadores brasileiros também já haviam confirmado que os pacientes com problemas do coração podem se beneficiar de exercícios físicos.
Agora, uma outra equipe do Incor (Instituto do Coração, ligado à USP), liderada por Lígia Antunes Corrêa, revelou mecanismos biológicos por trás desses benefícios.
Receptores musculares
Nos portadores de insuficiência cardíaca, atividades físicas simples do cotidiano, como subir escadas, fazer compras ou tomar banho, podem causar taquicardia, fadiga e dificuldade para respirar.
Essa intolerância ao esforço parece estar relacionada com uma hiperatividade do sistema nervoso simpático - parte do sistema nervoso autônomo responsável por controlar, entre outros fatores, os batimentos cardíacos, pressão arterial e a contração e o relaxamento de vasos sanguíneos.
"Existem dois tipos de receptores no tecido muscular: o metaborreceptor e o mecanorreceptor. Quando eles são estimulados, a atividade simpática aumenta. Mas em pacientes com insuficiência cardíaca esse aumento é exagerado, o que parece estar relacionado com uma hiperatividade dos mecanorreceptores, e isso faz com que os pacientes se cansem mais facilmente. Queríamos entender melhor por que isso ocorre", explicou Lígia.
O mecanorreceptor é uma espécie de sensor mecânico, ativado pela contração e pelo relaxamento muscular. Já o metaborreceptor é um sensor químico, ativado pelos metabólitos produzidos em resposta à contração do músculo.
Em pessoas saudáveis, a ativação desses receptores durante a realização de exercícios físicos tem a função de aumentar a atividade do sistema cardiovascular e respiratório e garantir o aporte adequado de sangue e oxigênio para as células.
Segundo a pesquisa, como a musculatura dos portadores de insuficiência cardíaca sofre uma série de alterações metabólicas em razão da redução no fluxo sanguíneo e da hiperatividade simpática, o metaborreceptor fica em contato constante com uma série de metabólitos produzidos em excesso, mesmo durante atividade leves do dia a dia, e acaba perdendo sua sensibilidade. Como forma de compensação, o receptor mecânico fica hiperativado.
Reabilitação cardíaca
Os voluntários foram divididos aleatoriamente em dois grupos. Metade fez apenas o acompanhamento clínico convencional e os demais foram submetidos a três sessões semanais de bicicleta ergométrica e exercícios localizados durante quatro meses.
No grupo de pacientes que passou pelo programa de treinamento físico, a atividade simpática durante a estimulação dos mecanorreceptores (por meio de contração muscular durante prática de exercícios passivos) ficou cerca de 10% menor. A queda foi acompanhada por uma redução de 50% no quadro inflamatório do músculo.
A biópsia muscular do grupo treinado também mostrou aumento na expressão dos receptores que sugere a recuperação da sensibilidade do metaborreceptor.
"A melhora desse balanço entre o mecanorreceptor e o metaborreceptor contribui para a diminuição da atividade simpática tanto durante o repouso como durante a realização das atividades do dia a dia. Isso está associado a uma melhora do prognóstico do paciente, pois diminui as arritmias cardíacas e a vasoconstrição periférica", afirmou a pesquisadora.
"Agora avançamos no entendimento de como o exercício modula a ação desses receptores. O grande diferencial da pesquisa é o aspecto translacional, ou seja, a associação entre os achados moleculares e o estado clínico do paciente", comentou Lígia.
Agência Fapesp
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