quinta-feira, 2 de outubro de 2014
Cientistas buscam alternativas para combater esquistossomose
Cientistas da USP estão trilhando caminhos alternativos para tentar eliminar a esquistossomose.
A doença é transmitida pelo Schistosoma mansoni, verme hematófago transmitido por caramujos Biomphalaria, que vive nas águas de rios, e que todos os anos causa milhares de mortes no mundo.
A pesquisadora Ana Carolina Mafud está fazendo a bioprospecção de produtos naturais - a busca por produtos naturais que tenham atividade contra a doença.
"Em relação à bioprospecção, três candidatos já apresentaram resultados satisfatórios: jaborandi, louro e uchi-amarelo", conta a cientista.
O grupo de Ana Carolina também estuda o reposicionamento de fármacos, que consiste pesquisar medicamentos para qualquer doença e observar suas atividades no combate à esquistossomose.
Sinergia
No reposicionamento de fármacos, os resultados iniciais foram obtidos com medicamentos bem conhecidos, como o diclofenaco e o praziquantel, que apresentaram uma surpreendente sinergia, produzindo resultados muito melhores do que cada medicamento isoladamente.
Criado em 1975 num esforço conjunto das indústrias farmacêuticas Bayer e Merryck, o praziquantel foi um medicamento desenvolvido para atuar na cura da esquistossomose, mas não apresentou os resultados esperados, além de apresentar várias outras deficiências, como a não eliminação definitiva do Schistosoma mansoni, o surgimento de casos de resistência ao medicamento, o elevado custo, as doses muito fortes etc.
A principal interrogação que surgiu era como o diclofenaco e o praziquantel, de classes químicas tão diferentes, podem atacar uma mesma doença?
Partindo de estruturas cristalográficas e utilizando técnicas de bioinformática, Ana Carolina conseguiu resolver a dúvida: a ação se dá graças a uma região comum na composição eletrônica da estrutura dos dois fármacos.
Entusiasmo e cautela
O estudo da estrutura cristalina também está sendo utilizado na bioprospecção dos princípios ativos das plantas.
Embora animada com todos os resultados alcançados até o momento, Ana Carolina faz uma ressalva.
"Entre a descoberta de produtos naturais com ação contra a esquistossomose e sua transformação em fármaco leva-se cerca de 15 anos," alertou ela.
Outra barreira a ser vencida, também referente à bioprospecção, é a criação de uma técnica capaz de tornar solúveis os elementos de interesse extraídos dos produtos naturais.
Porém, por sua baixa toxicidade e elevada aceitação no organismo - testes in vivo já realizados em ratos trouxeram resultados promissores -, os produtos naturais parecem ser a melhor alternativa para produção de um fármaco contra a esquistossomose.
E, mais do que isso, podem se mostrar úteis para cura de outras doenças negligenciadas.
Agência USP
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