quinta-feira, 26 de junho de 2014
Reserva do Taim une preservação ambiental e produção de arroz
Um imenso banhado a perder de vista. A Estação Ecológica do Taim fica no extremo sul do Rio Grande do Sul, entre os municípios de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar.
A área de conservação funciona como um corredor para aves migratórias que vem sul do continente e do Hemisfério Norte, e é também a casa de muitas espécies como biguás, cisnes, tarrãs, carcarás.
Ao todo são 230 espécies de aves que circulam ou vivem nessa planície. E elas não estão sozinhas. Capivaras, jacarés do papo amarelo, tartarugas tigre d’água e o graxaim são facilmente vistos pela área de preservação.
“A calma do lugar, a preservação e a característica única, acaba sendo um grande laboratório vivo. Hoje tem 40 pesquisas simultâneas ocorrendo no Taim e que vão dar um suporte muito importante para a ciência”, declara Henrique Ilha, chefe da estação ecológica.
Grande parte das pesquisas é sobre a fauna e a flora da região. Um dos problemas enfrentados pela Estação Ecológica do Taim é a morte de animais na estrada.
A BR-471 cruza 15 quilômetros da reserva, mas apenas 10 são telados. É pela região que boa parte dos caminhões que transportam os grãos produzidos na região passa com destino ao porto de Rio Grande.
“A gente faz o monitoramento de animais atropelados há quatro anos. A gente já contabilizou mais de 1.600 animais atropelados. Em 2002 fizeram um sistema de proteção a fauna, que são 19 túneis embaixo da rodovia e muitas placas de sinalização ao longo da rodovia. Mas o pessoal infelizmente gosta de pisar no acelerador e passa pelas estradas em alta velocidade”, explica Carolina Canary, bióloga da estação.
A Estação Ecológica do Taim tem uma característica interessante. Além de manter a biodiversidade da região e oferecer um vasto campo para desenvolvimento de pesquisas, ela influencia diretamente a agricultura, que tem o arroz como um dos principais cultivos.
“Ela é uma grande controladora da água na região, quando chove muito, por ser um banhado de 20 mil hectares e muita vegetação, ela retém essa água. E na época de seca ela mantém água para todas as atividades, para os animais, o arroz e outras atividades também”, comenta Caio Eichenmberger, oceanólogo da estação.
A estação é “abastecida” por quatro lagoas da região que também servem como fonte de água para os agricultores. Essa “divisão” do uso do recurso é também um desafio para a preservação do banhado.
João Carlos de Lima faz parte de um grupo de 12 produtores de arroz que usam água de duas lagoas da região na irrigação das lavouras. Para controlar o uso do recurso, os agricultores se uniram em 2010 numa associação.
“A quantidade de água nas lagoas determina a quantidade plantada nas lavouras. O ano que passou iniciou com uma redução de 25% de todas as áreas. Vão fazendo reuniões consecutivas e chegaram a um ponto que reduziria apenas 12,5%. As áreas simplesmente não foram plantadas”, explica o agricultor.
O controle do nível das lagoas é importante para a preservação do banhado. A falta de água pode, por exemplo, deixar as áreas de vulneráveis a incêndios. O último que atingiu a estação, o maior da história, foi no ano passado. Quase seis mil hectares foram queimados. O incêndio foi provocado por um raio.
“Não chega a matar a vegetação, o broto ele está dentro da água, então em três meses ela já recuperou metade do nível que está aqui hoje. Então a gente vê que é um ambiente de rápida recuperação. Apesar do impacto tremendo que foi o incêndio”, avalia o oceanólogo da estação.
As plantações do grão ficam principalmente ao norte e ao sul da área estação. É proibido plantar dentro da reserva. A maior parte das propriedades utiliza agrotóxicos na lavoura. Mas ainda não foi feito um estudo aprofundado sobre o impacto do uso de inseticidas na área da reserva.
“Ainda não existem indícios de contaminação do Taim. Nós estamos com um programa de melhores práticas, tanto para a agricultura quanto para a pecuária. Pequenos produtores têm mais dificuldades de subir de nível tecnológico, e por isso nós estamos buscando apoio para achar caminhos, para que eles possam produzir com mais qualidade e com menor impacto”, diz o chefe da estação ecológica.
Uma das técnicas que estão sendo aplicadas para tentar diminuir o uso de agrotóxicos nas lavouras é a introdução da soja, para integrar o sistema de produção arroz e pecuária, que já existe na região.
“A soja ajuda a controlar as invasoras do arroz, e o arroz ajuda a controlar as invasoras da soja. Com isso, temos menos necessidade de herbicidas”, explica Júlio Centeno, agrônomo da Embrapa.
O sistema funciona da seguinte forma: a lavoura é dividida entre arroz e soja. Na área da soja, quando caem as primeiras folhas, é semeado o azevém, um tipo de pastagem. O gado entra e deixa a terra preparada para receber o arroz na próxima safra.
Eduardo Darley Prates começou a aplicar essa técnica há cinco anos. “A soja veio como uma grande ferramenta para a propriedade. Agregando renda e melhorando a qualidade do solo da propriedade”, comenta.
Ainda não são muitas as propriedades que utilizam o sistema. Para o chefe da estação Henrique Ilha, a solução para redução do impacto da agricultura na reserva está na aplicação de novas tecnologias nas lavouras. “Sem criar maniqueísmos, dizer que nós somos os bons, que protegemos a natureza e quem produz são os ruins. Não. Nós somos pessoas de bem e temos uma missão. E eles também têm uma missão nobre, que é produzir alimento, e vamos achar um caminho em comum”.
A reserva do Taim tem planos de ampliar a área de proteção. O projeto já foi discutido com a comunidade local e encaminhado ao Ministério do Meio Ambiente no fim do ano passado. (Fonte: Globo Natureza)
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