sexta-feira, 7 de novembro de 2014
10 tentativas de explicar a vida sem a evolução darwiniana
Em 1831, Charles Darwin começou sua viagem como naturalista à bordo do HMS Beagle, por pouco mais de quatro anos. Nesta viagem, em que ele visitou a América do Sul, alguns pontos da África, da Austrália e da Oceania, ele coletou espécimes que levaram à produção de sua obra máxima, “A Origem das Espécies”, publicada em 1859.
Em sua obra, Darwin propõe uma explicação para a origem da diversidade da vida através dos mecanismos de seleção natural de características que tornam um animal mais apto a sobreviver, processo que com o tempo dá origem a novas espécies e que ficou conhecido como a Teoria da Evolução Darwiniana. Mas Darwin não foi o primeiro nem o último a propor um mecanismo para explicar a vida.
10. A Montanha Paradisíaca de Carolus Linnaeus
Carolus Linnaeus (1707-1778) é bem famoso dentro da biologia. Ele criou o sistema de dois nomes latinos usados até hoje para identificar os seres vivos, com o qual classificou milhares de espécies de plantas e animais, e deu uma importante contribuição para a biogeografia moderna. Mas, como muitos de sua época, ele acreditava que as narrativas de criação e dilúvio bíblicas eram relatos de fatos, e tratou de adequar suas descobertas e hipóteses a esta visão do mundo.
Para explicar a diversidade da vida, ele sugeriu que em algum momento deveria haver uma enorme montanha em uma ilha no equador, com diferentes biomas ao longo de suas encostas. Este seria o local da criação, e todos os organismos vivos teriam sido criados exatamente como os vemos hoje. Quando as águas baixaram, os animais se deslocaram para os lugares em que se encontravam na época. Este processo teria se repetido depois do dilúvio de Noé.
Apesar de Linnaeus ser uma celebridade de seu tempo, sua hipótese da montanha paradisíaca sofreu alguma oposição. Como animais como os pinguins sobreviveram a um passeio pelo deserto para chegar ao polo sul? E por que havia camelos em um deserto e não em outro?
9. “Origem no Norte”, George Louis LeClerc, Conde de Buffon George Louis LeClerc (1707-1788), Conde de Buffon, era um estudioso francês que, do nada, decidiu escrever um resumo do conhecimento humano sobre o mundo natural chamado “Historie Naturelle”, com 44 volumes. Buffon também havia notado que regiões similares, mas isoladas, possuíam biotas diferentes. Por exemplo, apesar dos polos serem gelados, haviam pinguins só no sul, e ursos polares só no norte. Esta observação recebeu o nome de “Lei de Buffon” e hoje é meio que considerada óbvia.
LeClerc rejeitava a ideia de Linnaeus, e criou sua própria hipótese, de que Deus teria criado todos os animais como eles são hoje, só que perto do Polo Norte, durante um período em que o clima era temperado, e de lá eles teriam se espalhado pelo mundo. O Conde de Buffon também acreditava que os animais podiam sofrer mudanças orgânicas, através do que ele chamava de “partículas orgânicas”, que seriam componentes do ambiente capazes de modificar os organismos.
8. “Montanhas da Criação”, de Karl Willdenow Karl Kudwig Willdenow (1765–1812) era um estudioso e botânico alemão. Como Linnaeus, ele classificou milhares de espécies. Seu herbário continha 20.000 espécimes quando ele morreu, e ainda pode ser visitado no Jardim Botânico de Berlim.
Willdenow pegou o conceito da montanha paradisíaca e deu uma turbinada nele, dizendo que, apesar do momento da criação ser um só, ele aconteceu em vários lugares ao mesmo tempo, em várias montanhas que estavam acima da linha da água durante a criação e durante o dilúvio. Ele tirou esta ideia a partir de sua preocupação com as plantas, que são basicamente imóveis, fato que o fez achar um pouco complicado elas povoarem o planeta a partir de um único local. As montanhas hipotéticas de Willdenow abrigavam cada uma um diferente biota e, quando as águas retrocederam, animais e plantas, todos criados como são hoje, desceram as montanhas para povoar as diferentes regiões no globo.
7. “Evolução Lamarckiana”, de Jean Baptiste Lamarck É difícil que alguém nunca tenha ouvido falar de Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet, Chevalier de Lamarck (1744–1829). Todos os professores e livros-texto de biologia gostam de apresentá-lo um pouco antes de Darwin, já que é fácil mostrar que suas ideias sobre evolução estavam erradas.
A hipótese evolutiva de Lamarck estava bastante centrada na ideia do uso e desuso. Ele notou que a maioria dos animais tinham estruturas vestigiais, o que lhe deu a ideia que, quando um animal usa bastante um órgão, ele se modifica para se acomodar a este uso. Atributos obtidos durante a vida de um animal seriam passados a seus descendentes. O exemplo da girafa é clássico, a girafa teria esticado o pescoço que teria ficado maior, o que faria com que seus descendentes tivessem pescoço comprido. Considerando que não existia ainda a genética mendeliana, a ideia do “uso e desuso” até que não era de todo má, mas haviam sérios furos nela. Por exemplo, se alguém perde uma perna em um acidente automobilístico, seus descendentes não vão nascer sem a perna. E filhos de halterofilistas não nascem com o corpo musculoso. Apesar disso, Lamarck teve alguns seguidores no século 20, como o botanista soviético Ivan Michurin, que por sua vez inspirou o também botanista Trofim Lysenko e Josehp Stalin, que aplicaram o Michurinismo na agricultura soviética. Não deu certo, mas mesmo assim foram precisos 20 anos para corrigir este erro.
6. “Formas Básicas”, anônimo X-Evolutionist é uma blogueira cristã criacionista, e não tem as mesmas credenciais dos outros membros desta lista, mas as ideias dela desafiam nossos conceitos de classificação de espécie.
Ela sugere que existe um número de formas básicas de animais no planeta, como gatos, ursos ou cães. Diferenças locais devido a fatores ambientais específicos poderiam existir, mas cães, lobos e coiotes, por exemplo, seriam a mesma espécie, modificada pelo ambiente, já que eles podem cruzar entre si. Entretanto, existe mais de uma forma de definir o que são espécies, e não é difícil encontrar “formas básicas” que não se cruzam, como pandas e ursos polares, leopardos e guepardos, e assim por diante.
5. “Apéiron”, de Anaximandro Anaximandro (610 – 546 aC) era um filósofo jônico que, como todo bom grego, resumiu suas descobertas e ideias sobre o mundo natural em um longo poema chamado “Sobre a Natureza”.
Para muitos cientistas, suas ideias sobre a origem das espécies parecem uma proto-teoria evolucionista. Ele sugeriu que a Terra era formada por uma substância sem forma chamada apéiron. Organismos, como plantas e animais, começaram a aparecer da lama, e os primeiros animais foram os peixes, dos quais os humanos teriam emergido. Além de seu poema sobre a natureza, ele também fez um dos primeiros mapas do mundo e estudou astronomia. A maior parte de seu trabalho está perdida, e por isto não há como saber quanto de seu poema é baseado em observações do mundo natural, quanto na mitologia da época.
4. Gene Egoísta de Richard Dawkins Até a década de 1960, os biólogos entendiam a seleção natural mais a termos de indivíduos. Alguns biólogos começaram a sugerir que talvez a seleção natural fosse melhor compreendida em termos de genes. O livro de Dawkins, “O Gene Egoísta”, popularizou esta ideia.
Nesta visão, são os genes que estão em competição com suas cópias ou alelos dentro dos próprios organismos. Segundo Dawkins, não é apropriado pensar a evolução em termos de indivíduos, porque isto pressupõe que os genes estão trabalhando em cooperação e não em competição. A visão centrada em genes faz sentido à luz da ideia da vida se originando a partir de uma sopa primordial, mas existem muitas objeções à ideia, como a de que algumas populações não fazem intercâmbio de alelos, e que alguns alelos são dependentes de outros para sobrevivência.
3. “Teoria Neutra da Evolução Molecular”, de Motoo Kimura Ao mesmo tempo que Dawkins estava fazendo seu trabalho sobre genes egoístas, Motoo Kimura estava sugerindo que algumas mudanças evolutivas a nível molecular não serviam a propósito algum, ou seja, eram simplesmente neutras.
A ideia de Kimura é que, ao mesmo tempo que um animal está adaptado a algum nicho ecológico através da seleção natural, existem mutações dentro da população ou indivíduos que não tem valor adaptativo e também não atrapalham os indivíduos, mas continuam presentes na população devido à deriva genética. Esta teoria não desconsidera a importância da seleção natural, mas sugere que nem todos os componentes de um organismo são o resultado de seleção natural.
2. “A Luta pela Sobrevivência”, de Al-Jahiz Al-Jahiz (776-868) era um estudioso islâmico que escreveu sobre muitos assuntos. um de seus livros mais conhecidos é o “Livro dos Animais”, em que ele expressa observações biológicas muito similares à Teoria da Evolução de Darwin.
As ideias de Al-Jahiz são explicadas em três partes, A Luta pela Sobrevivência, A Transformação das Espécies e Fatores Ambientais. Segundo ele, todo indivíduo está, em algum sentido, em luta com outros pela vida. Fatores ambientais ajudam os organismos a gradualmente desenvolver novas características, ao ponto de se tornarem organismos totalmente diferentes, ajudando-os a competir na luta pela sobrevivência. Se ele não é um precursor de Darwin, pelo menos é de Lamarck. A diferença principal é que era um muçulmano devoto vivendo no Iraque medieval, então ele postulou que Alá era quem dava forma à vida e que Sua vontade era o principal fator de evolução, mais que qualquer outro.
1. “As Leis da Vida Orgânica”, de Erasmus Darwin Erasmus Darwin (1731-1802), avô de Charles Darwin, foi um cientista importante do século 18. Além de naturalista e botanista, ele também era médico, filósofo e poeta. Como Anaximandro, ele descreveu suas observações sobre o mundo natural na forma de versos. Observador excepcional, usou uma abordagem integrativa, observando animais domesticados e selvagens, estudando paleontologia, biogeografia, embriologia e anatomia.
A hipótese de Erasmus era que a vida se originara de um único ancestral comum, mas ele teve dificuldades para explicar como as espécies evoluíram. Mesmo sem ter conhecido o trabalho de Lamarck, as suas ideias de “uso e desuso” eram bastante similares à evolução lamarckiana. Entretanto, Erasmus de certa forma prenunciou (ou será que inspirou?) as ideias de seu neto, ao extrapolar as ideias de “uso e desuso” e sugerir que os animais poderiam mudar como resultado da seleção sexual e competição.
Bônus: “Equilíbrio Pontuado”, de Niles Eldregde e Stephen Jay Gould A ideia de equilíbrio pontuado foi sugerida pela primeira vez em 1972. Basicamente, a evolução de Darwin postula um processo gradual de mudanças, em que as espécies vão acumulando novos traços lentamente até que se tornam uma nova espécie. O equilíbrio pontuado sugere que a vida permanece constante até que, em um período curto de tempo, evolui rapidamente em resposta a algum evento drástico. Muitos consideram esta teoria como um melhoramento da teoria de Darwin, ou uma sucessora dela, uma vez que está mais de acordo com o registro fóssil e também já foi observada em ação. [Listverse]
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