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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Estudo sugere que veremos um "novo clima" em 35 anos

Pesquisadores afirmam que a partir de 2047 mais de metade do globo apresentará temperaturas médias anuais acima de qualquer recorde de calor registrado desde 1860 Se as emissões de gases do efeito estufa continuarem no ritmo atual, a cidade do Rio de Janeiro alcançará um “desvio no clima” (climate departure) no ano de 2050, significando que a partir dessa data todos os anos seguintes serão mais quentes do que qualquer recorde registrado desde 1860. Para São Paulo, o ano marcante é 2051, já para Brasília é 2047. É 2047, aliás, o ano no qual mais de metade do planeta alcançará esse “desvio”, aponta uma pesquisa realizada pela Universidade do Havaí e publicada na revista Nature nesta quinta-feira (10). “Estamos chocados. Independentemente do cenário, mudanças acontecerão em breve. Ainda nesta geração, o clima ao qual estamos acostumados será uma coisa do passado”, afirmou Camilo Mora, principal autor do estudo. Nos trópicos o cenário é ainda mais pessimista. Havana, em Cuba, e a Cidade do México ultrapassarão esse “desvio” em 2031. Accra, em Gana, em 2027, e Porto Príncipe, no Haiti, em 2025 (veja a tabela completa das cidades no fim da matéria). “Nossos resultados sugerem que os países a serem primeiro impactados por um clima sem precedentes são justamente os que possuem menos capacidade para se adaptar. Ironicamente, esses também são os menos responsáveis pelas mudanças climáticas”, afirmou o coautor Ryan Longman. Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores dividiram o planeta em regiões de pouco mais de 600 quilômetros quadrados e traçaram mínimos e máximos de temperaturas entre 1860 a 2005 para cada uma dessas áreas. Em seguida, usando 39 Modelos de Sistemas Terrestres, desenvolvidos por 21 centros climáticos de 12 países, projetaram quando cada uma dessas regiões começaria a constantemente ficar acima dos limites elaborados pelo levantamento das temperaturas históricas. O ano em que isso acontece foi batizado pelos autores como “climate departure” (que aqui escolhemos traduzir como “desvio no clima”). Impactos Os trópicos são o lar da maior biodiversidade do planeta, e muitas dessas espécies não estão acostumadas com variação climática e são vulneráveis mesmo às menores alterações, alerta o estudo. Citando outras pesquisas, os autores afirmam que os corais são um exemplo claro de como a situação é crítica. Esses organismos estão sobre enorme pressão devido ao aumento das temperaturas e da queda do pH dos oceanos, resultante da maior concentração de dióxido de carbono (CO2) nas águas. A Universidade do Havaí utilizou o mesmo método que foi aplicado para as temperaturas nas cidades também para avaliar o pH dos oceanos. O resultado disso revela que o “desvio no clima” para o pH já aconteceu. Desde 2008, o pH está abaixo de qualquer registro desde 1850 e assim deve continuar. O baixo pH resulta na acidificação dos oceanos, que é uma das principais causas para o “branqueamento” e consequente morte de grande parte dos corais, que são essenciais para o ecossistema marinho. “Esse trabalho demonstra que estamos colocando os ecossistemas sob novas condições, as quais eles podem não ser capazes de se adaptar. É muito provável que veremos extinções”, afirmou Ken Caldeira, do Departamento de Ecologia Global da Instituição Carnegie, que não participou do estudo. Obviamente, a elevação das temperaturas terá também impactos na sociedade humana. Mais de cinco bilhões de pessoas vivem atualmente em regiões que já antes de 2050 passarão a experimentar eventos extremos mais frequentes e intensos. Além dos conhecidos problemas de secas e inundações, haverá consequências para a produção de alimentos e para praticamente todos os setores econômicos. Outras pesquisas também destacam que entre os perigos da elevação das temperaturas estão o aumento de conflitos causados por disputas por terras aráveis e por água, a migração em massa e a expansão de doenças tropicais, que sob um novo regime climático devem alcançar novas áreas. “Esse estudo é muito importante. Ele conecta os pontos entre os modelos climáticos e os impactos para a biodiversidade de uma forma inovadora, e traz ramificações para espécies e pessoas”, declarou Jane Lubchenco, ex-presidente da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA). Além de considerar o cenário do “business as usual” (RCP 8.5) para as emissões (se continuarmos com nossos hábitos de consumo sem alteração), o trabalho também fez projeções para um cenário onde consigamos controlar as liberações de gases do efeito estufa (RCP4.5). Nessa segunda situação, ganharíamos entre 20 e 25 anos até que mais da metade do globo ultrapassasse o “desvio no clima”. “Cientistas têm repetidamente alertado sobre as mudanças climáticas e seus efeitos na biodiversidade e nas pessoas. Nosso estudo mostra como tais mudanças já estão próximas. Os resultados apresentados não são uma razão para desistirmos. Ao contrário, precisamos encorajar as reduções nas emissões para diminuir a taxa das mudanças climáticas. Assim, poderemos ganhar tempo para as espécies, ecossistemas e para nós mesmos nos adaptarmos”, concluiu Mora. http://www.institutocarbonobrasil.org.br/mudancas_climaticas1/noticia=735366

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