sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Por que o escorbuto é um dos maiores mistérios da evolução humana?
A doença conhecida como escorbuto costumava ser o flagelo da marinha e de quem mais enfrentasse as longuíssimas viagens de navios nos séculos passados. Muitos escravos, colonizadores e comerciantes perderam suas vidas por causa desse mal.
Enquanto a última vez que você leu a palavra “escorbuto” provavelmente foi em um livro de História, a doença ainda é uma praga para os biólogos evolucionários – eles não sabem explicar totalmente por que o escorbuto existe apenas nos seres humanos.
No passado, depois de muitos meses no mar se alimentando apenas de carne de porco salgada, biscoitos de água e sal e rum, os viajantes começavam a passar mal. A primeira manifestação da doença costumava ser as manchas vermelhas que surgiam como se fossem manchas de sangue embaixo da pele. Na sequência, os marinheiros, escravos, imigrantes e outros perdiam os dentes e suas gengivas sangravam. Finalmente, a doença atacava o sistema nervoso e eles perdiam a conexão com a realidade. Era, de fato, uma péssima maneira de se morrer.
Imagine o alívio generalizado quando se descobriu que o consumo de um pouco de alguma fruta cítrica, como o limão ou a laranja, já seria o suficiente para manter as pessoas saudáveis. Por um tempo, a notícia deixou todo mundo contente, até que os cientistas localizaram o elemento que impedia o desenvolvimento do escorbuto – a vitamina C – e passaram a se perguntar por que a doença só parecia afetar os seres humanos.
Havia muitos animais que mantinham uma dieta ainda menos variada do que a dos marinheiros do século 18 e eram imunes à doença. Os cientistas descobriram que seus corpos fabricavam vitamina C; os nossos, não. Apenas no caso dos primatas (gorilas, chimpanzés, seres humanos e alguns tipos de macaco), o organismo deixava de produzir esta vitamina necessária. E a culpa nem é da genética. Nós possuímos o gene que permite a produção interna de vitamina C, a diferença é que alguma mutação precede este gene e impede a sua expressão.
A questão é: por que isso acontece? Não há dúvidas de que precisamos da vitamina C para nos mantermos vivos. A maioria dos animais que perderam a capacidade de produzir sua própria vitamina pode ingerir o suficiente para sobreviver, mas as mutações genéticas precisam ser vantajosas para se tornarem dominante em tantas espécies. Quais vantagens esta mutação em questão poderia ter trazido para ter se propagado com tanto sucesso?
Esta é uma questão ainda em andamento. Ninguém pode respondê-la com toda a certeza; os cientistas apenas têm alguma ideia do porquê isso aconteceu conosco.
Um dos subprodutos da fabricação de vitamina C é o peróxido de hidrogênio. Este elemento muitas vezes doa um de seus átomos de oxigênio às moléculas em torno dele, e é por isso que o peróxido forma bolhas quando entra em contato com o sangue. Este oxigênio recebido de presente pode alterar as moléculas ao redor, muitas vezes matando a célula que elas ocupam (esta é a razão pela qual as pessoas às vezes passam peróxido de hidrogênio em cortes feitos na pele: para matar as bactérias que podem ter entrado ali).
Este também é o motivo pela qual a exposição ao peróxido de hidrogênio deve ser evitada. Embora diversos procedimentos que acontecem em nosso corpo também produzam peróxido de hidrogênio, este elemento pode matar células humanas, assim como o faz com as bactérias. Esta pode ser a explicação de por que precisamos tanto das frutas cítricas.
Talvez a certeza de minimizar o peróxido de hidrogênio interno compense a possibilidade de um dia você desenvolver o escorbuto. Ou seja, não produzimos vitamina C porque um de seus possíveis efeitos colaterais pode ser a morte de algumas de nossas células. Justo.[io9]
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