sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Para painel do clima, nuvens devem elevar aquecimento
O papel das nuvens na mudança climática ainda é um assunto cheio de incertezas, mas o próximo relatório do IPCC (painel do clima da ONU) dá um passo na direção de um veredito.
Segundo uma versão preliminar do documento, o que a ciência mostra até agora é que a alteração que o aquecimento global provoca na dinâmica de formação de nuvens contribui para que o calor se amplifique.
A versão provisória do AR5, o quinto relatório do IPCC, a ser divulgado na sexta, reconhece que as nuvens têm efeitos paradoxais sobre o clima, algumas delas fazendo a Terra reter mais calor, outras fazendo o planeta refletir radiação solar.
O texto porém, afirma que “o sinal do balanço de feedback radiativo é provavelmente positivo”. Em outras palavras, os cientistas têm 66% de certeza de que a mudança climática cria um ciclo vicioso, no qual nuvens aquecem um planeta que cria mais nuvens causadoras de aquecimento.
Ainda não é um veredito com grau de certeza acachapante como o atribuído aos gases-estufa – a culpa do aquecimento global é da queima de combustíveis fósseis por ação humana com 95% de certeza, diz o relatório. Mas é uma grande evolução desde o último relatório, o AR4, em 2007, que se declarou incapaz de chegar a um consenso sobre a questão.
“O fato de o AR4 ter botado o dedo na ferida e dito que a parte de aerossóis e nuvens era a mais crítica fez com que milhares de cientistas voltassem pesquisas para essa área”, diz Paulo Artaxo, climatologista da USP e coautor do capítulo dedicado ao tema no novo relatório.
O maior problema era – e ainda é – saber se as nuvens baixas têm efeito positivo ou negativo sobre o aquecimento. Por estarem sob mais pressão, elas ficam mais compactas e ajudam a refletir luz solar. Já o vapor comum ou as nuvens mais altas (rarefeitas) retêm calor.
O efeito das nuvens baixas era um dos aspectos mais explorados por grupos que negam o aquecimento global causado pelo homem.
Ainda que o grau de certeza da nova resposta esteja abaixo do máximo, a alegação de que as nuvens vão salvar o planeta não tem obtido sustentação.
O problema agora é projetar o futuro. Para isso, é preciso usar modelos matemáticos de previsão, que ainda não estão prontos para tal.
Uma das principais razões para essa limitação, segundo Artaxo, é que a resolução dos modelos ainda é grosseira demais para tratar de nuvens.
Uma célula do planeta em um modelo é como um pixel de 50 km de largura, mas nuvens são menores que isso, podendo ter 100 m ou menos. Os cientistas precisam então simplificar a representação das nuvens em seus modelos matemáticos do clima.
Raios cósmicos – O novo relatório também descarta uma teoria que ganhou espaço entre críticos do IPCC: a de que a formação de nuvens pudesse estar sendo afetada por uma alteração sazonal na taxa de raios cósmicos. Defendida pelo físico dinamarquês Henrik Svensmark, a hipótese seria uma explicação alternativa para o aquecimento não relacionada aos combustíveis fósseis.
Segundo Artaxo, o texto fez o maior esforço possível para não deixar nenhum aspecto de fora. “Você pode até achar que uma ou outra coisa é bobagem, mas não importa. É preciso analisar as evidências experimentais para verificar se uma coisa que parece a maior loucura do mundo é verdadeira ou não.” (Fonte: Folha.com)
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